Falo-vos agora das flores do jardim mágico que roubei
E naquela cela sombria, sem gradis, que vivo,
Em sigilo guardei
Em lugar profundo,
Longe de mim, o mais imundo
jardineiro que Deus pôs neste mundo -
DALÍ, S. O Monte Agradável |
Roubarei as flores do jardim mágico;
Plantarei em minh’alma as raízes ramosas;
Sonharei com perfumes, matizes e pétalas;
Sugarão de meu âmago nutrientes às rosas.
Cantarei minha glória, do furto, às cores;
Gozarei no deserto um jardim Ordinário;
Farei de angustias o banquete funéreo
A vesti-las do néctar de meu doce sudário.
Ó sublime campo de trevas faminto,
Florirás prima graça mesmo em tempos de estio:
De meu cerne o infinito de dor e ruína,
De meus anos doridos as lembranças sem brio.
Jardineiro eu serei de minha própria desgraça,
A colher rubros versos se do ódio regar:
De alvas tristezas a distintos buquês;
De meu corpo vazio florescerá casto mar.
Para a longa eternidade deixado de ser,
O jardim volverá ao altar por mim construído
A contemplar da rosa sem pétalas meu coração renascer.
Roubei as flores do jardim mágico,
Às guardei em segredo, longe do mundo;
Desapontadas, não fincaram meu desejo, agora já trágico;
Disseram não poder ajudar quem já é um defunto.
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