Bravejais dentre os lumes vossa ira,
Glorioso Marte!
Bravejais feito o líqüido das guerras
o vosso signo!
Bravejais! Bravejais!
JARDIM DE APORIAS
sábado, 6 de fevereiro de 2021
MARTE
segunda-feira, 2 de novembro de 2020
FINADOS, nº 9 - QUANDO VIER A PRIMAVERA (Alberto Caeiro)
Quando vier a primavera,
Se eu já estiver morto,
As flores florirão da mesma maneira
E as árvores não serão menos verdes que na primavera passada.
A realidade não precisa de mim.
Sinto uma alegria enorme
Ao pensar que a minha morte não tem importância nenhuma.
Se soubesse que amanhã morria
E a primavera era depois de amanhã,
Morreria contente, porque ela era depois de amanhã.
Se esse é o seu tempo, quando havia ela de vir senão no seu tempo?
Gosto que tudo seja real e que tudo esteja certo;
E gosto porque assim seria, mesmo que eu não gostasse.
Por isso, se morrer agora, morro contente,
Porque tudo é real e tudo está certo.
Podem rezar latim sobre o meu caixão, se quiserem.
Se quiserem, podem dançar e cantar à roda dele.
Não tenho preferências para quando já não puder ter preferências.
O que for, quando for, é que será o que é.
Marie Egner (Austrian, 1850-1940), Alter Friedhof-Old graveyard (ca. 1883-84). |
- Alberto Caeiro [Heterônimo de Fernando Pessoa].
FINADOS, nº 8 - SOBRE A MORTE SEM EXAGERO (Wisława Szymborska)
Nie zna się na żartach, Não entende de piadas,
na gwiazdach, na mostach, de estrelas, de pontes,
na tkactwie, na górnictwie, na uprawie roli, de tecer, minerar, lavrar a terra,
na budowie okrętów i pieczeniu ciasta. de construir navios e assar bolos.
W nasze rozmowy o planach na jutro Quando falamos de planos para amanhã
wtrąca swoje ostatnie słowo intromete sua última palavra
nie na temat. sem nada a ver com o assunto.
Nie umie nawet tego, Não sabe sequer as coisas
co bezpośrednio łączy się z jej fachem: diretamente ligadas ao seu ofício:
ani grobu wykopać, nem cavar uma cova,
ani trumny sklecić, nem fazer um caixão,
ani sprzątnąć po sobie. nem arrumar a desordem que deixa.
Zajęta zabijaniem, Ocupada em matar,
robi to niezdarnie, o faz de modo canhestro,
bez systemu i wprawy. sem método nem mestria,
Jakby na każdym z nas uczyła się dopiero. como se em cada um de nós estivesse aprendendo.
Tryumfy tryumfami, Triunfos, vá lá,
ale ileż klęsk, mas quantas derrotas,
ciosów chybionych golpes falhos
i prób podejmowanych od nowa! e tentativas repetidas de novo!
Czasami brak jej siły, Às vezes lhe faltam forças
żeby strącić muchę z powietrza. para fazer cair uma mosca do ar.
Z niejedną gąsienicą Mais de uma lagarta
przegrywa wyścig w pełzaniu. rastejando a vence na corrida.
Te wszystkie bulwy, strąki, Todos esses bulbos, grãos,
czułki, płetwy, tchawki, tentáculos, barbatanas, traqueias,
pióra godowe i zimowa sierść plumagens nupciais e pelame de inverno
świadczą o zaległościach testemunham atrasos
w jej marudnej pracy. no seu trabalho tedioso.
Zła wola nie wystarcza A má vontade não basta,
i nawet nasza pomoc w wojnach i przewrotach, e mesmo nossa ajuda com guerras e revoluções
to, jak dotąd, za mało. é, até aqui, insuficiente.
Serca stukają w jajkach. Corações batem nos ovos.
Rosną szkielety niemowląt. Crescem os esqueletos dos bebês.
Nasiona dorabiają się dwóch pierwszych listków, Das sementes brotam duas primeiras folhinhas,
a często i wysokich drzew na horyzoncie. e amiúde também árvores altas no horizonte.
Kto twierdzi, że jest wszechmocna, Quem afirma que ela é onipotente
sam jest żywym dowodem, é ele mesmo a prova viva
że wszechmocna nie jest. de que onipotente ela não é.
Nie ma takiego życia, Não há vida
które by choć przez chwilę que pelo menos por um momento
nie było nieśmiertelne. não tenha sido imortal.
Śmierć A morte
zawsze o tę chwilę przybywa spóźniona. chega sempre atrasada àquele momento.
Na próżno szarpie klamką Em vão força a maçaneta
niewidzialnych drzwi. de uma porta invisível.
Kto ile zdążył, A ninguém pode subtrair
tego mu cofnąć nie może. o tempo alcançado.
Legh Mulhall Kilpin (1853-1919) - Gate of the Infinite (1910). |
- Wisława Szymborska, em "Um amor feliz – Wisława Szymborska". Título original do poema: O śmierci bez przesady. Tradução de Regina Przybycien.
FINADOS, nº 7 - VEM, DOCE MORTE (Henriqueta Lisboa)
Vem, doce morte. Quando queiras.
Ao crepúsculo, no instante em que as nuvens
desfilam pálidos casulos
e o suspiro das árvores — secreto —
não é senão prenúncio
de um delicado acontecimento.
Quanto queiras. Ao meio-dia, súbito
espetáculo deslumbrante e inédito
de rubros panoramas abertos
ao sol, ao mar, aos montes, às planícies
com celeiros refertos e intocados.
Quando queiras. Presentes as estrelas
ou já esquivas, na madrugada
com pássaros despertos, à hora
em que os campos recolhem as sementes
e os cristais endurecem de frio.
Tenho o corpo tão leve (quando queiras)
que a teu primeiro sopro cederei distraída
como um pensamento cortado
pela visão da lua
em que acaso — mais alto — refloresça.
Caspar David Friedrich (German, 1774-1840), Kügelgen's Tomb (1821-22). |
- Henriqueta Lisboa, in "Poesia geral", 1985.
FINADOS, nº 6 - MÁXIMAS, REFLEXÕES MORAIS [máxima] (Rochefoucauld)
« Le soleil ni la mort ne se peuvent regarder fixement.»
« Neither the sun nor death can be looked at with a
steady eye.
« Não é
possível olhar fixamente para o sol nem para a morte.
Henri-Pierre Picou (1824-1895) - The Passage (circa 1860). |
- François de La Rochefoucauld, do original Réflexions ou Sentences et Maximes morales, (1664). Título em inglês Reflections, or Sentences and Moral Maxims. Tradução para o português de Marina Appenzeller (Máximas, reflexões morais).
FINADOS, nº 5 - FENOMENOLOGIA DO ESPÍRITO [trecho] (G. W. F. Hegel)
« Dies Bewußtsein hat nämlich nicht um dieses oder jenes, noch für
diesen oder jenen Augenblick Angst gehabt, sondern um sein ganzes Wessen; denn
es hat die Furcht des Todes, des absoluten Herrn, empfunden.
Maximilian Pirner (1853-1924), End of All Things, 1887, oil on canvas |
- George Wilhelm Friedrich Hegel, do original Phänomenologie des Geistes. Traduzido para o inglês [The Phenomenology of Spirit] por Terry Pinkard e, para o português, por Paulo Meneses; com a colaboração de Karl-Heinz Efken e José Nogueira Machado, SJ.Fenomenologia do Espírito.
FINADOS, nº 4 - Os Paraísos Artificiais [trecho] (Charles Boudelaire)
« La Mort, que nous ne consultons pas sur nos projets et à qui nous ne pouvons pas demander son acquiescement, la Mort, qui nous laisse rêver de bonheur et de renommée et qui ne dit ni oui ni non, sort brusquement de son embuscade, et balaye d'un coup d'aile nos plans, nos rêves et les architectures idéales où nous abritions en pensée la gloire de nos derniers jours! »
Émile Friant (1863 - 1932) La douleur (Pain), 1898, Musée des beaux-arts, Nancy. |
- Charles Boudelaire, do original Les Paradis Artificiels. Tradução para o português de Marina Appenzeller.